Tractatus Logico-Philosophicus (português): Difference between revisions

no edit summary
No edit summary
No edit summary
Line 274: Line 274:


'''3.143''' Que um signo proposicional seja um fato, isto é velado pela forma comum de expressão, escrita ou impressa.
'''3.143''' Que um signo proposicional seja um fato, isto é velado pela forma comum de expressão, escrita ou impressa.
Na proposição impressa, por exemplo, o signo proposicional não parece essencialmente diferente da palavra.
(Foi assim possível a Frege chamar à proposição de nome composto.)
'''3.1431''' A essência do signo proposicional se torna muito clara quando, em vez de o pensarmos composto de signos escritos, o pensamos composto de objetos espaciais (tais como mesas, cadeiras, livros).
A posição espacial oposta dessas coisas exprime, pois, o sentido da proposição.
'''3.1432''' Não: "O signo complexo '''aRb''<nowiki/>' diz que ''a'' por ''R'' se relaciona com ''b''", mas: que "''a''" por um certo ''R'' se relaciona com "''b''", isto quer dizer ''que'' ''aRb''.
'''3.144''' É possível descrever situações, impossível no entanto ''nomeá-las''.
(Os nomes são como pontos, as proposições, flechas; possuem sentido.)
'''3.2''' Nas proposições os pensamentos podem ser expressos de tal modo que aos objetos dos pensamentos correspondam elementos do signo proposicional.
'''3.201''' A êsses elementos chamo de "signos simples" e à proposição, "completamente analisada".
'''3.202''' Os signos simples empregados nas proposições são chamados nomes.
'''3.203''' O nome denota o objeto. O objeto é sua denotação. ("''A''" é o mesmo signo que "''A''".)
'''3.21''' À configuração dos signos simples no signo proposicional corresponde a configuração dos objetos na situação.
'''3.22''' Na proposição o nome substitui o objeto.
'''3.221''' Posso ''nomear'' apenas objetos. Os signos os substituem. Posso apenas falar ''sobre'' êles, não posso, porém, ''enunciá-los''. Uma proposição pode apenas dizer ''como'' uma coisa é, mas não ''o que'' é.
'''3.23''' Postular a possibilidade de signos simples é postular a determinabilidade do sentido.
'''3.24''' A proposição que trata de um complexo achase numa relação interna com a proposição que trata das partes constituintes dêle.
O complexo só pode ser dado por sua descrição, e esta concordará ou não concordará com êle. A proposição que se ocupa de um complexo inexistente não será absurda, mas simplesmente falsa.
Que um elemento proposicional designa um complexo, isto pode ser visto graças a uma indeterminabilidade na proposição na qual êle aparece. ''Sabemos'' por esta proposição que nem tudo está determinado. (A designação da universalidade já ''contém'', com efeito, uma protofiguração.)
A reunião dos símbolos de um complexo em um símbolo simples pode ser expressa por uma definição.
'''3.25''' Existe apenas uma e uma única análise completa da proposição.
'''3.251''' A proposição exprime o que é expresso de um modo determinado e dado claramente: A proposição é articulada.
'''3.26''' O nome não é para ser desmembrado ademais por uma definição: é um signo primitivo.
'''3.261''' Cada signo definido designa ''por sôbre'' os signos pelos quais é definido, e as definições mostram o caminho.
Dois signos, um signo primitivo e outro definido por signos primitivos, não podem designar pela mesma maneira. Nomes ''não podem'' ser decompostos por definições. (Nenhum signo isolado e autônomo possui denotação.)
'''3.262''' O que no signo não vem expresso é indicado pela aplicação. O que os signos escondem, a aplicação exprime.
'''3.263''' As denotações dos signos primitivos podem ser esclarecidas por elucidações. Elucidações são proposições que contêm os signos primitivos. Só podem, portanto, ser entendidas quando já se conhecem as denotações dêsses signos.
'''3.3''' Só a proposição possui sentido; só em conexão com a proposição um nome tem denotação.
'''3.31''' A cada parte da proposição que caracteriza um sentido chamo de expressão (símbolo).
(A própria proposição é uma expressão.)
A expressão é tudo que, sendo essencial para o sentido da proposição, as proposições podem ter em comum entre si.
A expressão caracteriza uma forma e um conteúdo.
'''3.311''' A expressão pressupõe as formas de tôdas as proposições nas quais pode aparecer. Constitui a marca característica comum a uma classe de proposições.
'''3.312''' Representa-se, pois, por intermédio da forma geral das proposições que a caracteriza.
E assim a expressão será, nesta forma, ''constante'' e todo o resto, ''variável''.
'''3.313''' A expressão será representada por uma variável, cujos valores são as proposições que contêm a expressão.
(No caso limite, a variável torna-se constante, a expressão, a proposição.)
A uma tal variável chamo de "variável proposicional".
'''3.314''' A expressão tem denotação apenas na proposição. Cada variável pode ser concebida como variável proposicional.
(A variável nome também.)
'''3.315''' Se transformarmos uma parte constituinte de uma proposição numa variável, existe então uma classe de proposições constituída por todos os valores da proposição variável assim resultante. Esta classe ainda depende em geral do que nós, segundo um ajuste arbitrário, chamamos partes da proposição. Se, no entanto, transformarmos todos aquêles signos, cujas denotações foram determinadas arbitra riamente, em variáveis, ainda continua a existir aquela classe. Esta, porém, não mais depende de qualquer ajuste, mas únicamente da natureza da proposição. Corresponde a uma forma lógica — a uma protofiguração lógica.
'''3.316''' Fixam-se os valores que a variável proposicional deve tomar.
A fixação dos valôres ''é'' a variável.
'''3.317''' A fixação dos valores das variáveis proposicionais consiste na ''indicação das proposições'', as quais têm como marca característica comum a variável.
A fixação é uma descrição dessas proposições.
A fixação se ocupará, pois, únicamente dos símbolos, não se ocupando de sua denotação.
E para a fixação é essencial ''ser apenas uma descrição de símbolos, nada assertando sobre o designado''. Como se dá a descrição da proposição é inessencial.
'''3.318''' Concebo a proposição — do mesmo modo que Frege e Russell — como função das expressões que nela estão contidas.
'''3.32''' O signo é o que no símbolo é sensivelmente perceptível.
'''3.321''' Dois símbolos diferentes podem ter, pois, em comum o mesmo signo (escrito ou sonoro, etc.) — designam dêsse modo de diferentes maneiras.
'''3.322''' A marca característica comum a dois objetos nunca pode indicar que os designamos com o mesmo signo, embora com diferentes ''modos de designação''; porquanto o signo, sem dúvida, é arbitrário. Poderíamos, portanto, escolher dois signos diferentes, e onde permaneceria o que é comum na designação?
'''3.323''' Na linguagem corrente amiúde acontece que a mesma palavra designa de modos diferentes — pertencendo, pois, a símbolos diferentes — ou ainda duas palavras, que designam de modos diferentes, são empregadas na proposição superficialmente da mesma maneira.