Tractatus Logico-Philosophicus (português): Difference between revisions

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É essencial para a equação, entretanto, ela não ser necessária para mostrar que ambas as expressões, ligadas pelo signo de igualdade, possuam a mesma denotação, pois isto se vê a partir de ambas as expressões.
É essencial para a equação, entretanto, ela não ser necessária para mostrar que ambas as expressões, ligadas pelo signo de igualdade, possuam a mesma denotação, pois isto se vê a partir de ambas as expressões.


'''6.2321''' E que as proposições da matemática possam ser provadas, nada mais quer dizer que sua correção é reconhecida sem precisar comparar o que elas ex-<references />
'''6.2321''' E que as proposições da matemática possam ser provadas, nada mais quer dizer que sua correção é reconhecida sem precisar comparar o que elas exprimem com os fatos, do ponto de vista de sua correção.
 
'''6.2322''' Não se ''afirma'' a identidade da denotação de duas expressões, pois, para poder afirmar algo a respeito de sua denotação, devo conhecer essa denotação e, ao conhecê-la, já sei se denota a mesma coisa ou algo diferente.
 
'''6.2323''' A equação revela apenas o ponto de vista do qual considero ambas as expressões, a saber, o ponto de vista da igualdade de sua denotação.
 
'''6.233''' A pergunta se é preciso a intuição para resolver problemas matemáticos deve ser respondida considerando que a própria linguagem fornece a intuição necessária.
 
'''6.2331''' O processo de ''calcular'' faz intervir precisamente essa intuição.
 
O cálculo não é experimento.
 
'''6.234''' A matemática é um método da lógica.
 
'''6.2341''' O que é essencial para o método matemático é trabalhar com equações. E dêsse método depende particularmente que cada proposição da matemática deve ser compreendida de per si.
 
'''6.24''' O método pelo qual a matemática chega às equações é o da substituição.
 
Porquanto a equação exprime o caráter substitutivo das duas expressões, de sorte que passamos de um número de equações para uma nova equação, substituindo expressões por outras, de acordo com as equações.
 
'''6.241''' É desta maneira então que se desdobra a prova de 2 × 2 = 4{{p center|<math>( \Omega^{ \nu} )^{\mu \prime} x = \Omega^{ \nu \times \mu \prime} x \text{ Def.}</math>}}{{p center|<math>\Omega^{2 \times 2 \prime} x = (\Omega^2 )^{2 \prime} x = ( \Omega^2 )^{1+1 \prime} x = \Omega^{2 \prime} \Omega^{2 \prime} x = \Omega^{1 + 1 \prime} \Omega^{1 + 1 \prime} x</math>}}{{p center|<math>(\Omega ' \Omega)^{\prime} (\Omega ' \Omega)^{\prime} x = \Omega ' \Omega ' \Omega ' \Omega ' x = \Omega^{1 + 1 + 1 + 1 \prime} x = \Omega^{4 \prime} x</math>}}'''6.3''' A investigação da lógica denota a investigação de ''tôda a legalidade''. Fora dela tudo é acidente.
'''6.31''' A assim chamada lei da indução não pode, em caso algum, ser uma lei lógica, pois é patentemente uma proposição significativa. — De sorte que nem mesmo pode ser uma lei ''a priori''.
 
'''6.32''' A lei da causalidade não é lei mas forma de uma lei.
 
'''6.321''' "Lei de causalidade" é um nome genérico. E assim como dizemos, na mecânica, que existem leis mínimas — por exemplo, a de ação menor — existem na física leis de causalidade, leis da forma da causalidade.
 
'''6.3211''' Já se teve, com efeito, um pressentimento de que era preciso uma "lei de ação mínima" antes de se saber exatamente o que rezava. (Aqui como sempre, o que é certo ''a priori'' se revela como algo puramente lógico.)
 
'''6.33''' Não ''acreditamos'' ''a priori'' numa lei da conservação, mas ''conhecemos a priori'' a possibilidade de uma forma lógica.
 
'''6.34''' Todas aquelas proposições, como o princípio de razão suficiente, o de continuidade na natureza, o do mínimo esforço na natureza, etc., etc., tôdas são visualizações ''a priori'' a respeito da possibilidade de enformar proposições da ciência.
 
'''6.341''' A mecânica newtoniana, por exemplo, conduz a descrição do universo a uma forma unificada. Tomemos uma superfície branca e sobre ela manchas pretas irregulares. Dizemos então: seja qual for a figuração que faço, sempre posso aproximar-me quanto quiser de sua descrição, se cubro a superfície com uma rêde quadriculada suficientemente fina de modo a poder dizer de cada quadrado se é branco ou prêto. Conduzi dessa maneira a descrição da superfície a uma forma unificada. Essa forma é qualquer, pois teria empregado com o mesmo sucesso uma rêde feita em triângulos ou em hexágonos. É possível que a descrição com auxílio de uma rêde em triângulos fôsse mais simples, isto é, com uma grossa rêde em triângulos poderíamos ter obtido uma descrição mais precisa das manchas do
 
que com outra mais fina e quadriculada (ou vice-versa), e assim por diante. Às diversas rêdes correspondem diversos sistemas de descrever o mundo. A mecânica determina uma forma de descrição do mundo, pois diz: tôdas as proposições da descrição do mundo devem ser obtidas de um número de proposições dadas — os axiomas mecânicos — segundo um modo dado. Com isto provê as pedras para a construção do edifício científico, dizendo: sejam quais forem os edifícios que pretendas levantar, deves construí-los com estas e apenas estas pedras.
 
(Assim como se escreve qualquer número com o sistema numérico, com o sistema da mecânica deve-se poder escrever qualquer proposição da física.)
 
'''6.342''' Vemos assim a posição oposta da lógica e da mecânica. (Poder-se-ia também fazer a rêde composta de figuras diversas, como de triângulos e hexágonos.) Que uma figuração como a mencionada acima seja descrita por uma rêde de uma forma dada, não asserta ''nada'' a respeito da figuração. (Porquanto isso vale para cada figuração dessa espécie.) Caracteriza, porém, a figuração poder ser ''completamente'' descrita por uma determinada rêde de ''determinada'' finura.
 
Do mesmo modo, nada asserta a respeito do mundo poder ser descrito pela mecânica newtoniana; asserta, entretanto, poder ser descrito por ela ''tal'' como precisamente vem a ser. Também diz algo a respeito do mundo poder ser descrito, por uma mecânica, de maneira mais simples do que por outra.
 
'''6.343''' A mecânica é uma tentativa de construir, conforme um plano único, tôdas as proposições ''verdadeiras'' que precisamos para a descrição do mundo.
 
'''6.3431''' Através de todo o aparato lógico, as leis físicas ainda falam de objetos do mundo.
 
'''6.3432''' Não devemos nos esquecer de que a descrição do mundo feita pela mecânica é sempre inteiramente geral. Nunca trata, por exemplo, de um ponto material ''determinado'', mas únicamente de ''qualquer um''.
 
'''6.35''' Embora as manchas em nossa figuração sejam figuras geométricas, a geometria evidentemente nada tem a dizer sobre sua forma efetiva e sobre sua condição. A rêde, porém, é ''puramente'' geométrica, tôdas as suas propriedades podem ser dadas ''a priori''.
 
Leis como o princípio de razão suficiente, etc., tratam da rêde, não, porém, do que ela descreve.
 
'''6.36''' Se houvesse uma lei da causalidade, seria do seguinte teor: "há leis naturais".
 
No entanto, òbviamente isto não se pode dizer: mostra-se.
 
'''6.361''' Segundo as expressões de Hertz, poder-se-ia dizer: apenas as conexões ''em conformidade com a lei'' são ''pensáveis''.
 
'''6.3611''' Não podemos comparar nenhum processo com o "decurso do tempo" (êsse decurso não existe), apenas com outro processo — em particular, com o andar de um cronômetro.
 
Por isso a descrição do curso temporal só é possível porque nos apoiamos em outro processo.
 
É análogo o que acontece com o espaço. Quando se diz, por exemplo, que nenhum de dois acontecimentos (mùtuamente exclusivos) tem lugar, porque não há ''nenhuma causa'' que leve um a realizar-se ao invés do outro, na realidade trata-se apenas da impossibilidade de descrever ''um'' dentre os dois acontecimentos quando não há uma assimetria qualquer. ''Desde que haja'' tal assimetria, podemos tomá-la como ''causa'' do vir-a-ser de um e do não vir-a-ser do outro.
 
'''6.36111''' O problema kantiano da mão direita e da mão esquerda que não se cobrem já surge no plano e até mesmo num espaço unidimensional, onde duas figuras congruentes ''a'' e ''b'' não se cobrem a não ser que se movam fora dêsse espaço. A mão esquerda e a direita são de fato perfeitamente congruentes.<references />