6,094
edits
No edit summary |
No edit summary |
||
Line 616: | Line 616: | ||
A filosofia não resulta em "proposições filosóficas" mas em tornar claras as proposições. | A filosofia não resulta em "proposições filosóficas" mas em tornar claras as proposições. | ||
A filosofia deve tomar os pensamentos que, por assim dizer, são vagos e obscuros e torná-los claros e bem delimitados. | |||
'''4.1121''' A psicologia não é mais aparentada à filosofia do que qualquer outra ciência natural. | |||
A teoria do conhecimento é a filosofia da psicologia. | |||
Não corresponde meu estudo sobre a linguagem simbólica ao estudo dos processos do pensamento, os quais os filósofos consideram tão essencial para a filosofia da lógica? Eles apenas se confundem na maior parte com investigações psicológicas inessenciais, existindo um perigo análogo para meu método. | |||
'''4.1122''' A teoria de Darwin não tem mais a ver com a filosofia do que qualquer outra hipótese das ciências naturais. | |||
'''4.113''' A filosofia delimita o domínio contestável das ciências naturais. | |||
'''4.114''' Deve delimitar o pensável e com isso o impensável. | |||
Deve demarcar o impensável do interior por meio do pensável. | |||
'''4.115''' Denotará o indizível, representando claramente o dizível. | |||
'''4.116''' Tudo em geral o que pode ser pensado o pode claramente. Tudo que se deixa exprimir, deixase claramente. | |||
'''4.12''' A proposição pode representar a realidade inteira, não pode, porém, representar o que ela deve ter em comum com a realidade para poder representá-la — a forma lógica. | |||
Para podermos representar a forma lógica seria preciso nos colocar, com a proposição, fora da lógica; a saber, fora do mundo. | |||
'''4.121''' A proposição não pode representar a forma lógica, esta espelha-se naquela. | |||
Não é possível representar o que se espelha na linguagem. | |||
O que ''se'' exprime na linguagem não podemos expressar por meio dela. | |||
A proposição ''mostra'' a forma lógica da realidade. | |||
Ela a exibe. | |||
'''4.1211''' Dêsse modo, a proposição "''fa''" mostra que o objeto a aparece em seu sentido, duas proposições "''fa''" e "''ga''" que em ambas se trata do mesmo objeto. | |||
Se duas proposições se contradizem, isto é mostrado por sua estrutura; do mesmo modo, quando uma se segue da outra. E assim por diante. | |||
'''4.1212''' O que ''pode'' ser mostrado ''não pode'' ser dito. | |||
'''4.1213''' Agora compreendemos nosso sentimento de que estamos de posse de uma concepção lógica correta somente quando tudo esteja conforme em nossa linguagem simbólica. | |||
'''4.122''' Podemos em certo sentido falar de propriedades formais de objetos e estados de coisas, em particular de propriedades da estrutura dos fatos, e no mesmo sentido de relações formais e de relações de estruturas. | |||
(Em lugar de propriedade da estrutura falo também de "propriedade interna", em lugar de relação de estruturas, "relação interna". | |||
Introduzo essas expressões para mostrar o fundamento da confusão, muito difundida no meio dos filósofos, entre relações internas e relações propriamente ditas (externas).) | |||
A subsistência de tais propriedades e de tais relações internas não pode ser, todavia, afirmada por proposições, mas se mostra nas proposições que apresentam os estados de coisas e os objetos em questão. | |||
'''4.1221''' A uma propriedade interna de um fato podemos ainda chamar de traço dêsse fato. (No sentido em que falamos, por exemplo, de traços faciais.) | |||
'''4.123''' Uma propriedade é interna quando fôr impensável que seu objeto não a possua. | |||
(Esta côr azul e aquela estão na relação interna de mais claro e ''eo ipso'' mais escuro. É impensável ''êstes'' dois objetos não estarem nesta relação.) | |||
(Ao emprego impreciso das palavras "propriedade" e "relação" corresponde aqui o emprêgo impreciso da palavra "objeto".) | |||
'''4.124''' A subsistência de uma propriedade interna de uma situação possível não se expressa por uma proposição mas, na proposição que a representa, por uma propriedade interna desta proposição. | |||
Seria, pois, absurdo tanto imputar como não imputar à proposição uma propriedade formal. | |||
'''4.1241''' Não se podem distinguir as formas umas das outras dizendo que uma tem esta propriedade e aquela, outra, pois isto pressupõe que teria sentido assertar ambas propriedades de ambas as formas. | |||
'''4.125''' A subsistência de uma relação interna entre situações possíveis exprime-se lingüìsticamente por meio de uma relação interna entre as proposições que as representam. | |||
'''4.1251''' Isto liquida a disputa "se tôdas as relações são internas ou externas". | |||
'''4.1252''' Às séries ordenadas por relações ''internas'' chamo de séries formais. | |||
A série dos números não se ordena segundo uma relação externa, mas segundo uma relação ''interna''. | |||
Da mesma maneira, a série de proposições "''aRb''", | |||
{{p indent|"(∃''x'') : ''aRx . xRb''",}} | |||
{{p indent|"(∃''x, y'') : ''aRx . xRy . yRb''", e assim por diante.}} | |||
(Estando ''b'' numa dessas relações com ''a'', chamo-lhe de sucessor de ''a''.) | |||
'''4.126''' No mesmo sentido em que falamos de propriedades formais, podemos também nos referir a conceitos formais. | |||
(Introduzo essa expressão com o intuito de deslindar a confusão dos conceitos formais com os |