Tractatus Logico-Philosophicus (português): Difference between revisions

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(O número de posições no interior dos parênteses da esquerda está determinado pelo número de têrmos dos da direita.)
(O número de posições no interior dos parênteses da esquerda está determinado pelo número de têrmos dos da direita.)


'''4.45''' Para ''n'' proposições elementares há L grupos possíveis de condições de verdade.
'''4.45''' Para ''n'' proposições elementares há ''L<sub>n</sub>'' grupos possíveis de condições de verdade.


Os grupos de condições de verdade que pertencem às possibilidades de verdade de um número de proposições elementares ordenam-se numa série.
Os grupos de condições de verdade que pertencem às possibilidades de verdade de um número de proposições elementares ordenam-se numa série.
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No segundo caso a proposição é falsa para tôdas as condições de verdade: as condições de verdade são ''contraditórias''.
No segundo caso a proposição é falsa para tôdas as condições de verdade: as condições de verdade são ''contraditórias''.
No primeiro caso chamamos à proposição de tautologia, no segundo, contradição.
'''4.461''' A proposição mostra o que diz, a tautologia e a contradição que não dizem nada.
A tautologia não possui condições de verdade pois é verdadeira sob qualquer condição; a contradição sob nenhuma condição é verdadeira.
A tautologia e a contradição são vazias de sentido.
(Como o ponto de onde duas flechas partem em direções opostas.)
(Nada sei, por exemplo, a respeito do tempo se sei que chove ou não chove.)
'''4.4611''' A tautologia a contradição não são, porém, absurdas; pertencem ao simbolismo do mesmo modo que "0" pertence ao simbolismo da aritmética.
'''4.462''' A tautologia e a contradição não são figurações da realidade. Não representam nenhuma situação possível, porquanto aquela permite ''tôdas'' as situações possíveis, esta, ''nenhuma''.
'''4.463''' Na tautologia as condições de concordância com o mundo — as relações representativas — cancelam-se umas às outras, pois não se põem em relação representativa com a realidade.
As condições de verdade determinam o campo aberto aos fatos pela proposição.
(A proposição, a figuração, o modêlo são, num sentido negativo, como um corpo sólido que limita a liberdade de movimento de outro; no sentido positivo, como um espaço limitado por uma substância sólida onde um corpo pode ter lugar.)
A tautologia deixa inteiramente à realidade o espaço lógico — infinito —; a contradição preenche o espaço lógico inteiro, não deixando à realidade ponto algum. Nenhuma delas pode, por conseguinte, determinar a realidade de um modo qualquer.
'''4.464''' É certa a verdade da tautologia, da proposição é possível e da contradição impossível.
(Certo, possível, impossível: temos aqui a indicação da gradação que precisamos para a teoria da probabilidade.)
'''4.465''' O produto lógico de uma tautologia e de uma proposição diz o mesmo que a proposição. O produto é, pois, idêntico à proposição, porquanto não se pode alterar o essencial do símbolo sem alterar seu sentido.
'''4.466''' A uma determinada união lógica de signos corresponde uma determinada união da denotação dêles; ''cada'' união ''arbitrária'' corresponde apenas a signos desunidos.
Isto quer dizer que proposições, verdadeiras para qualquer situação, não podem ser em geral uniões de signos, pois, caso contrário, apenas determinadas uniões de objetos poderiam corresponder.
(E a nenhuma união lógica corresponde ''nenhuma'' união de objetos.)
Tautologia e contradição são casos-limites da união de signos, a saber, sua dissolução.
'''4.4661''' Por certo na tautologia e na contradição os signos ainda estão ligados uns aos outros, isto é, relacionam-se entre si, mas estas relações são desprovidas de denotação, são inessenciais para o ''símbolo''.
'''4.5''' Agora parece possível estabelecer a forma mais geral da proposição, isto é, estabelecer uma descri- ção das proposições numa linguagem simbólica ''qualquer'', de tal modo que cada um dos sentidos possíveis poderia ser expresso por um símbolo adequado à descrição e cada símbolo adequado à descrição poderia exprimir um sentido, se as denotações dos nomes fôssem convenientemente escolhidas.
É claro que, descrevendo a forma mais geral de uma proposição, ''somente'' o que é essencial deve ser descrito — caso contrário não seria a mais geral.
Prova-se a existência de uma forma geral da proposição porque não deve haver proposição alguma cuja forma não seja antes pressuposta (isto é, construída). A forma geral da proposição é: isto ''está'' do seguinte modo.
4.51 Supondo que todas as proposições elementares me sejam dadas, surge a pergunta: quais são as proposições que posso formar a partir delas? E estas são todas as proposições e assim elas são limitadas.
As proposições são tudo o que se segue da totalidade das proposições elementares (sem dúvida por que se parte da totalidade de todas elas). (Num certo sentido é possível dizer que todas as proposições são generalizações das proposições elementares.)
A forma geral da proposição é uma variável. A proposição é uma função de verdade das proposições elementares.
(A proposição elementar é uma função de verdade de si mesma.)
As proposições elementares são os argumentos de verdade da proposição.
E fácil confundir argumentos de uma função com índices de nomes. Conheço em particular a denotação de um signo que a contém tanto pelo argumento como pelo índice.
No sinal de Russell "+", por exemplo, "" é um índice que indica valer o signo inteiro para a soma de números cardinais. Esta designação, porém, se apóia num ajuste arbitrário, de sorte que seria possível em vez de "+" escolher outro signo simples; em "~p", entretanto, "p" não é índice algum, mas argumento: o sentido de "~p" não pode ser compreendido sem que antes o sentido de "p" o seja. (No nome Julius Caesar, "Julius" é índice. Este é sempre parte da descrição do objeto cujos nomes vinculamos a êle. Por exemplo, o Caesar da gente juliana.)
A confusão entre argumento e índice constitui, se não me engano, a base da teoria de Frege a respeito da denotação das proposições e das funções. Para Frege, as proposições da lógica seriam nomes, e seus argumentos, os índices dêsses nomes.