Observações sobre “O ramo de ouro” de Frazer: Difference between revisions

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<span id="parte-i">'''I. Teil'''</span>
<span id="parte-i">'''I. Teil'''</span>


{{leftaside|ʃ}} [Creio agora que seria correto iniciar um <meu> livro <s>sobre</s> com observações sobre a metafísica como uma espécie de magia.{{hidden|<sup>18</sup>}}
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[Creio agora que seria correto iniciar um <meu> livro <s>sobre</s> com observações sobre a metafísica como uma espécie de magia.{{hidden|<sup>18</sup>}}


{{leftaside|ʃ}} Ao fazê-lo, no entanto, eu não poderia falar a favor da magia nem fazer troça dela.{{hidden|<sup>19</sup>}}
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Ao fazê-lo, no entanto, eu não poderia falar a favor da magia nem fazer troça dela.{{hidden|<sup>19</sup>}}


{{leftaside|ʃ}} A profundidade da magia teria que ser mantida. – Sim, pois a {{udashed|eliminação}} <s>de toda</s> da magia teria aqui o caráter da própria magia.{{hidden|<sup>20</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 177)}}
{{leftaside|ʃ}}
A profundidade da magia teria que ser mantida. – Sim, pois a {{udashed|eliminação}} <s>de toda</s> da magia teria aqui o caráter da própria magia.{{hidden|<sup>20</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 177)}}


{{leftaside|ʃ}} Pois, se eu comecei a falar do "mundo" (e não desta árvore ou mesa), o que teria querido senão encantar com as minhas palavras algo de mais alto?]{{hidden|<sup>21</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 178)}}
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Pois, se eu comecei a falar do "mundo" (e não desta árvore ou mesa), o que teria querido senão encantar com as minhas palavras algo de mais alto?]{{hidden|<sup>21</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 178)}}


Deve-se começar pelo erro e convertê-lo à verdade.{{hidden|<sup>22</sup>}}
Deve-se começar pelo erro e convertê-lo à verdade.{{hidden|<sup>22</sup>}}
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O aperto dos pensamentos que não podem vir para fora, porque todos querem empurrar-se para a frente e, assim, se trancam na saída.{{hidden|<sup>39</sup>}}
O aperto dos pensamentos que não podem vir para fora, porque todos querem empurrar-se para a frente e, assim, se trancam na saída.{{hidden|<sup>39</sup>}}


Se alguém coloca aquele relato do rei-sacerdote de Nemi junto com frase ―a majestade da morte‖, vê então que ambos são um só.{{hidden|<sup>40</sup>}}
Se alguém coloca aquele relato do rei-sacerdote de Nemi junto com a frase ―a majestade da morte‖, vê então que ambos são um só.{{hidden|<sup>40</sup>}}


A vida do rei-sacerdote apresenta aquilo que se diz com aquela frase.{{hidden|<sup>41</sup>}}
A vida do rei-sacerdote apresenta aquilo que se diz com aquela frase.{{hidden|<sup>41</sup>}}
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Poder-se-ia dizer: este e este acontecimento se realizaram; ri, se podes.'''{{hidden|<sup>44</sup>}}''' {{MS reference|(TS 211, p. 315)}}
Poder-se-ia dizer: este e este acontecimento se realizaram; ri, se podes.'''{{hidden|<sup>44</sup>}}''' {{MS reference|(TS 211, p. 315)}}


A ação religiosa, ou a vida religiosa do rei-sacerdote não é de outro tipo que toda a ação religiosa autêntica de hoje, por exemplo de uma  confissão  de  pecados.   Também esta se  pode ―''explicar''‖  e  não se pode explicar.{{hidden|<sup>45</sup>}}
A ação religiosa, ou a vida religiosa do rei-sacerdote não é de outro tipo que toda a ação religiosa autêntica de hoje, por exemplo de uma confissão de pecados. Também esta se pode ―''explicar''‖ e não se pode explicar.{{hidden|<sup>45</sup>}}


Queimar em efígie.{{hidden|<sup>46</sup>}} Beijar a imagem da pessoa amada. É ''claro'' que isto ''não'' se baseia na crença em uma determinada efetividade sobre o objeto que a imagem apresenta. Isso só visa uma satisfação, e também a obtém. Ou melhor, isso ''não visa'' absolutamente nada; nós agimos assim mesmo e nos sentimos satisfeitos.{{hidden|<sup>47</sup>}}
Queimar em efígie.{{hidden|<sup>46</sup>}} Beijar a imagem da pessoa amada. É ''claro'' que isto ''não'' se baseia na crença em uma determinada efetividade sobre o objeto que a imagem apresenta. Isso só visa uma satisfação, e também a obtém. Ou melhor, isso ''não visa'' absolutamente nada; nós agimos assim mesmo e nos sentimos satisfeitos.{{hidden|<sup>47</sup>}}
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Por que não deveria a pessoa poder ter o seu nome como sagrado? Por um lado, este é o instrumento mais importante que lhe é dado; por outro lado, é como uma jóia que lhe é pendurada quando nasce.
Por que não deveria a pessoa poder ter o seu nome como sagrado? Por um lado, este é o instrumento mais importante que lhe é dado; por outro lado, é como uma jóia que lhe é pendurada quando nasce.


Quão enganosas são as explicações de Frazer, vê-se – creio eu –, em que se poderia muito bem inventar os próprios costumes primitivos, e teria que ser uma coincidência se eles não fossem realmente encontrados em algum lugar. Quer dizer, o princípio segundo o qual esses costumes são ordenados é muito mais geral do que na explicação de Frazer, e está na nossa própria mente, de modo que podemos por nós mesmos conceber todas as possibilidades.{{hidden|<sup>58</sup>}} – Que talvez o rei de uma tribo seja preservado da visão de todos, podemos muito bem conceber, mas também que todo {{MS reference|(TS 211, p. 317)}} homem da tribo deva vê-lo. Este último poderia vir a ocorrer certamente não para qualquer um de modo mais ou menos casual, mas ele seria ''mostrado'' ao  povo.   Talvez não fosse permitido  a  ninguém tocar nele, talvez, no entanto, todos ''tivessem'' que tocá-lo. Pensemos que, depois da morte de Schubert, seu irmão cortou as suas partituras em pequenos pedaços, e deu aos seus discípulos preferidos alguns compassos desses pedaços. Este ato, como sinal de devoção, nos é compreensível ''do mesmo modo'' que o outro, as partituras intocadas, ninguém tendo acesso, preservadas. E se o irmão de Schubert as tivesse queimado, isso também seria compreensível como sinal de devoção.{{hidden|<sup>59</sup>}}
Quão enganosas são as explicações de Frazer, vê-se – creio eu –, em que se poderia muito bem inventar os próprios costumes primitivos, e teria que ser uma coincidência se eles não fossem realmente encontrados em algum lugar. Quer dizer, o princípio segundo o qual esses costumes são ordenados é muito mais geral do que na explicação de Frazer, e está na nossa própria mente, de modo que podemos por nós mesmos conceber todas as possibilidades.{{hidden|<sup>58</sup>}} – Que talvez o rei de uma tribo seja preservado da visão de todos, podemos muito bem conceber, mas também que todo {{MS reference|(TS 211, p. 317)}} homem da tribo deva vê-lo. Este último poderia vir a ocorrer certamente não para qualquer um de modo mais ou menos casual, mas ele seria ''mostrado'' ao povo. Talvez não fosse permitido a ninguém tocar nele, talvez, no entanto, todos ''tivessem'' que tocá-lo. Pensemos que, depois da morte de Schubert, seu irmão cortou as suas partituras em pequenos pedaços, e deu aos seus discípulos preferidos alguns compassos desses pedaços. Este ato, como sinal de devoção, nos é compreensível ''do mesmo modo'' que o outro, as partituras intocadas, ninguém tendo acesso, preservadas. E se o irmão de Schubert as tivesse queimado, isso também seria compreensível como sinal de devoção.{{hidden|<sup>59</sup>}}


O cerimonial (quente ou frio), ao contrário do {{udashed|casual}} (morno), caracteriza a devoção.
O cerimonial (quente ou frio), ao contrário do {{udashed|casual}} (morno), caracteriza a devoção.
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Sim, as explicações de Frazer não seriam em absoluto nenhuma explicação se elas não apelassem em último termo para alguma inclinação em nós mesmos.{{hidden|<sup>60</sup>}}
Sim, as explicações de Frazer não seriam em absoluto nenhuma explicação se elas não apelassem em último termo para alguma inclinação em nós mesmos.{{hidden|<sup>60</sup>}}


O comer e o beber estão ligados ao perigo{{hidden|<sup>61</sup>}} não só para os selvagens, mas também para nós; nada mais natural que querer proteger-se {{udashed|dele}}; pois nós podemos conceber por nós mesmos essas medidas de segurança. – Mas segundo qual princípio nós as imaginamos// segundo qual princípio nós as inventamos //? Evidentemente de acordo com uma forma, depois que todos os perigos tiverem sido reduzidos a alguns muito simples, e que seja visível sem esforço pelas pessoas. Portanto, segundo o mesmo princípio pelo qual as pessoas incultas nos dizem que a doença passa da cabeça para o peito etc., etc. Nessas imagens simples a personificação, naturalmente, joga um grande papel, porquanto nos é //  de todos // conhecido que os homens (portanto, espíritos) podem  se tornar perigosos para os homens.{{hidden|<sup>62</sup>}}
O comer e o beber estão ligados ao perigo{{hidden|<sup>61</sup>}} não só para os selvagens, mas também para nós; nada mais natural que querer proteger-se {{udashed|dele}}; pois nós podemos conceber por nós mesmos essas medidas de segurança. – Mas segundo qual princípio nós as imaginamos// segundo qual princípio nós as inventamos //? Evidentemente de acordo com uma forma, depois que todos os perigos tiverem sido reduzidos a alguns muito simples, e que seja visível sem esforço pelas pessoas. Portanto, segundo o mesmo princípio pelo qual as pessoas incultas nos dizem que a doença passa da cabeça para o peito etc., etc. Nessas imagens simples a personificação, naturalmente, joga um grande papel, porquanto nos é // de todos // conhecido que os homens (portanto, espíritos) podem se tornar perigosos para os homens.{{hidden|<sup>62</sup>}}


Que a sombra de uma pessoa, que vemos como uma pessoa, ou a sua imagem no espelho, que chuva, trovoada, as fases da lua, a mudança das estações, a semelhança e a diferença dos animais entre si e com as pessoas, as manifestações da morte, o nascimento e a vida sexual, {{MS reference|(TS 211, p. 318)}} em suma, tudo que as pessoas todos os anos percebem ao redor de si, e ligam de múltiplas maneiras entre si, é compreensível que se apresentem //joguem um papel// no seu pensamento (na sua filosofia) e nos seus costumes, ou é de fato isto o que nós realmente sabemos e é interessante.{{hidden|<sup>63</sup>}}
Que a sombra de uma pessoa, que vemos como uma pessoa, ou a sua imagem no espelho, que chuva, trovoada, as fases da lua, a mudança das estações, a semelhança e a diferença dos animais entre si e com as pessoas, as manifestações da morte, o nascimento e a vida sexual, {{MS reference|(TS 211, p. 318)}} em suma, tudo que as pessoas todos os anos percebem ao redor de si, e ligam de múltiplas maneiras entre si, é compreensível que se apresentem //joguem um papel// no seu pensamento (na sua filosofia) e nos seus costumes, ou é de fato isto o que nós realmente sabemos e é interessante.{{hidden|<sup>63</sup>}}
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Nós temos que arar toda a extensão da linguagem.{{hidden|<sup>75</sup>}}
Nós temos que arar toda a extensão da linguagem.{{hidden|<sup>75</sup>}}


Frazer:  ―...  That  these observances are  dictated by fear  of the ghost of the slain seems certain; ...‖ (―...Que essas observâncias sejam ditadas pelo medo do fantasma do assassinado, parece certo;...‖){{hidden|<sup>76</sup>}} Mas então por que usa Frazer a palavra ―ghost‖ (fantasma)? Ele compreende, portanto, muito bem esta superstição, já que ele nos explica o que ela é com uma palavra supersticiosa e familiar para ele. Ou antes, ele teria que poder ver que também fala em nós algo em favor do modo de agir dos selvagens. – Quando eu, que não creio que haja em qualquer parte seres humanos sobre-humanos que possam ser chamados de deuses – quando digo: ―temo a vingança dos deuses‖, isso mostra que eu (posso) quero dizer algo com isso, ou posso dar expressão a um sentimento, que não está necessariamente {{MS reference|(TS 211, p. 320)}} ligado àquela crença.{{hidden|<sup>77</sup>}}
Frazer: ―... That these observances are dictated by fear of the ghost of the slain seems certain; ...‖ (―...Que essas observâncias sejam ditadas pelo medo do fantasma do assassinado, parece certo;...‖){{hidden|<sup>76</sup>}} Mas então por que usa Frazer a palavra ―ghost‖ (fantasma)? Ele compreende, portanto, muito bem esta superstição, já que ele nos explica o que ela é com uma palavra supersticiosa e familiar para ele. Ou antes, ele teria que poder ver que também fala em nós algo em favor do modo de agir dos selvagens. – Quando eu, que não creio que haja em qualquer parte seres humanos sobre-humanos que possam ser chamados de deuses – quando digo: ―temo a vingança dos deuses‖, isso mostra que eu (posso) quero dizer algo com isso, ou posso dar expressão a um sentimento, que não está necessariamente {{MS reference|(TS 211, p. 320)}} ligado àquela crença.{{hidden|<sup>77</sup>}}


Frazer seria capaz de acreditar que um selvagem morre por equívoco. Nos livros de leitura da escola primária consta que Átila empreendeu sua grande expedição militar porque acreditava que possuía a espada do deus do trovão.
Frazer seria capaz de acreditar que um selvagem morre por equívoco. Nos livros de leitura da escola primária consta que Átila empreendeu sua grande expedição militar porque acreditava que possuía a espada do deus do trovão.


Frazer é muito mais ''savage'' (selvagem){{hidden|<sup>78</sup>}} que a maioria dos seus ''savages'' (selvagens), pois estes não estariam tão longe da compreensão  de uma questão mental remota quanto um inglês do século XX. ''Suas'' explicações das práticas primitivas são muito mais toscas que o próprio sentido dessas práticas.{{hidden|<sup>79</sup>}}
Frazer é muito mais ''savage'' (selvagem){{hidden|<sup>78</sup>}} que a maioria dos seus ''savages'' (selvagens), pois estes não estariam tão longe da compreensão de uma questão mental remota quanto um inglês do século XX. ''Suas'' explicações das práticas primitivas são muito mais toscas que o próprio sentido dessas práticas.{{hidden|<sup>79</sup>}}


A explicação histórica, a explicação como uma hipótese da evolução, é só ''uma'' espécie de resumo dos dados – a sua sinopse. Assim como também é possível ver os dados na sua relação uns com os outros e resumi-los numa imagem geral, sem fazê-lo na forma de uma hipótese sobre a evolução temporal.{{hidden|<sup>80</sup>}}
A explicação histórica, a explicação como uma hipótese da evolução, é só ''uma'' espécie de resumo dos dados – a sua sinopse. Assim como também é possível ver os dados na sua relação uns com os outros e resumi-los numa imagem geral, sem fazê-lo na forma de uma hipótese sobre a evolução temporal.{{hidden|<sup>80</sup>}}
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Identificação dos próprios deuses com os deuses de outros povos. Nos convencemos de que os nomes têm o mesmo significado.{{hidden|<sup>81</sup>}}
Identificação dos próprios deuses com os deuses de outros povos. Nos convencemos de que os nomes têm o mesmo significado.{{hidden|<sup>81</sup>}}


―E assim o coro aponta para uma lei secreta‖,{{hidden|<sup>82</sup>}} poder-se-ia dizer da coletânea de fatos frazereana. Esta lei, esta ideia, eu ''posso'' exprimir // apresentar// mediante uma hipótese evolutiva, ou também, em analogia com o esquema de uma planta, pelo esquema de uma cerimônia religiosa, ou tão só pelo agrupamento dos materiais factuais somente, numa apresentação  ―''panorâmica''‖.{{hidden|<sup>83</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 321)}}
―E assim o coro aponta para uma lei secreta‖,{{hidden|<sup>82</sup>}} poder-se-ia dizer da coletânea de fatos frazereana. Esta lei, esta ideia, eu ''posso'' exprimir // apresentar// mediante uma hipótese evolutiva, ou também, em analogia com o esquema de uma planta, pelo esquema de uma cerimônia religiosa, ou tão só pelo agrupamento dos materiais factuais somente, numa apresentação ―''panorâmica''‖.{{hidden|<sup>83</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 321)}}


O conceito de apresentação panorâmica{{hidden|<sup>84</sup>}} tem para nós{{hidden|<sup>85</sup>}} a mais fundamental importância. Ele marca a nossa forma de apresentação, a maneira como {{MS reference|(TS 211, p. 281)}} nós vemos as coisas. (Uma espécie de ―visão de mundo‖ tal como é aparentemente típica do nosso tempo.{{hidden|<sup>86</sup>}} Spengler{{hidden|<sup>87</sup>}})
O conceito de apresentação panorâmica{{hidden|<sup>84</sup>}} tem para nós{{hidden|<sup>85</sup>}} a mais fundamental importância. Ele marca a nossa forma de apresentação, a maneira como {{MS reference|(TS 211, p. 281)}} nós vemos as coisas. (Uma espécie de ―visão de mundo‖ tal como é aparentemente típica do nosso tempo.{{hidden|<sup>86</sup>}} Spengler{{hidden|<sup>87</sup>}})
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Mas eu posso ver também a hipótese evolutiva{{hidden|<sup>92</sup>}} como um Nada além, como{{hidden|<sup>93</sup>}} a «uma» vestimenta de uma concatenação formal. {{MS reference|(TS 211, p. 322)}}
Mas eu posso ver também a hipótese evolutiva{{hidden|<sup>92</sup>}} como um Nada além, como{{hidden|<sup>93</sup>}} a «uma» vestimenta de uma concatenação formal. {{MS reference|(TS 211, p. 322)}}


Gostaria de dizer: nada mostra melhor nosso parentesco com aqueles selvagens do que Frazer ter à mão uma palavra tão familiar para ele  e para  nós  como  ―ghost‖  (fantasma)ou ―shade‖  (sombra),  para descrever a maneira de ver daquela gente.{{hidden|<sup>94</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 250)}}
Gostaria de dizer: nada mostra melhor nosso parentesco com aqueles selvagens do que Frazer ter à mão uma palavra tão familiar para ele e para nós como ―ghost‖ (fantasma)ou ―shade‖ (sombra), para descrever a maneira de ver daquela gente.{{hidden|<sup>94</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 250)}}


(Claro que seria outra coisa se ele talvez descrevesse que os selvagens imaginavam // imaginam // que a sua cabeça cairia no chão se eles matassem um inimigo a pancadas. Aqui a ''nossa descrição'' não teria em si nada de supersticioso ou mágico.){{hidden|<sup>95</sup>}}
(Claro que seria outra coisa se ele talvez descrevesse que os selvagens imaginavam // imaginam // que a sua cabeça cairia no chão se eles matassem um inimigo a pancadas. Aqui a ''nossa descrição'' não teria em si nada de supersticioso ou mágico.){{hidden|<sup>95</sup>}}


Na realidade, essa estranheza não se refere só às expressões ―ghost‖ (fantasma) e ―shade‖ (sombra), e muito pouca atenção se dá ao fato de que contabilizamos a palavra  ―alma‖,  ―espírito‖ (―spirit‖),  no nosso próprio vocabulário culto. {{udashed|Comparado a isto}}, é uma {{udashed|ninharia}} o fato de que não acreditamos que nossa alma coma e beba.{{hidden|<sup>96</sup>}}
Na realidade, essa estranheza não se refere só às expressões ―ghost‖ (fantasma) e ―shade‖ (sombra), e muito pouca atenção se dá ao fato de que contabilizamos a palavra ―alma‖, ―espírito‖ (―spirit‖), no nosso próprio vocabulário culto. {{udashed|Comparado a isto}}, é uma {{udashed|ninharia}} o fato de que não acreditamos que nossa alma coma e beba.{{hidden|<sup>96</sup>}}


Na nossa linguagem está assentada toda uma mitologia.{{hidden|<sup>97</sup>}}
Na nossa linguagem está assentada toda uma mitologia.{{hidden|<sup>97</sup>}}


Exorcismo da morte ou assassinato da morte;{{hidden|<sup>98</sup>}} mas, por outro lado, ela foi representada como um esqueleto, como algo morto em certo sentido. ―As dead as death.‖ ‗Nada é tão morto como a morte; nada é tão belo quanto a própria beleza.‘ A imagem sob a qual se pensa aqui a realidade  é  a  de  que  a  beleza,  a  morte  etc. é a substância pura (concentrada) «são as substâncias puras (concentradas)», ao passo que ela«s» existe«m» como mistura em um objeto belo.{{hidden|<sup>99</sup>}} – Não reconheço aqui minhas próprias observações sobre ‗objeto‘ e ‗complexo‘?{{hidden|<sup>100</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 251)}}
Exorcismo da morte ou assassinato da morte;{{hidden|<sup>98</sup>}} mas, por outro lado, ela foi representada como um esqueleto, como algo morto em certo sentido. ―As dead as death.‖ ‗Nada é tão morto como a morte; nada é tão belo quanto a própria beleza.‘ A imagem sob a qual se pensa aqui a realidade é a de que a beleza, a morte etc. é a substância pura (concentrada) «são as substâncias puras (concentradas)», ao passo que ela«s» existe«m» como mistura em um objeto belo.{{hidden|<sup>99</sup>}} – Não reconheço aqui minhas próprias observações sobre ‗objeto‘ e ‗complexo‘?{{hidden|<sup>100</sup>}} {{MS reference|(TS 211, p. 251)}}


Nos antigos ritos temos o uso de uma linguagem de gestos extremamente cultivada.{{hidden|<sup>101</sup>}}
Nos antigos ritos temos o uso de uma linguagem de gestos extremamente cultivada.{{hidden|<sup>101</sup>}}
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Poder-se-ia dizer que ―toda vista tem a sua sedução‖, mas isso seria falso. O correto é dizer que toda a vista é significativa para aquele que a vê como significativa (o que não quer dizer que ele a veja como diferente do que é). E neste sentido, toda vista é igualmente significativa.{{hidden|<sup>105</sup>}}
Poder-se-ia dizer que ―toda vista tem a sua sedução‖, mas isso seria falso. O correto é dizer que toda a vista é significativa para aquele que a vê como significativa (o que não quer dizer que ele a veja como diferente do que é). E neste sentido, toda vista é igualmente significativa.{{hidden|<sup>105</sup>}}


Na verdade, é importante que eu também tenha que «i  me» apropriar do desprezo dos outros por mim, como uma parte essencial e significativa do mundo vista do meu lugar.{{hidden|<sup>106</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 254)}}
Na verdade, é importante que eu também tenha que «i me» apropriar do desprezo dos outros por mim, como uma parte essencial e significativa do mundo vista do meu lugar.{{hidden|<sup>106</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 254)}}


Se uma pessoa tivesse nascido «i se» «deixado  nascer» livremente numa árvore de uma floresta: então haveria aqueles que selecionariam a árvore mais bela ou a mais alta, aqueles que escolheriam a mais baixa e aqueles que escolheriam uma árvore média ou menor que uma média; e entendo que eles o fariam não por filistinismo, mas pela razão, ou pelo tipo de razão, pelo qual o outro escolheu a mais alta. Que o sentimento que temos pela nossa vida seja comparável ao da pessoa que pôde escolher o seu ponto de vista no mundo, está na base, creio, do mito –  ou da crença – de que escolhemos o nosso corpo antes do nascimento.{{hidden|<sup>107</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 255)}}
Se uma pessoa tivesse nascido «i se» «deixado nascer» livremente numa árvore de uma floresta: então haveria aqueles que selecionariam a árvore mais bela ou a mais alta, aqueles que escolheriam a mais baixa e aqueles que escolheriam uma árvore média ou menor que uma média; e entendo que eles o fariam não por filistinismo, mas pela razão, ou pelo tipo de razão, pelo qual o outro escolheu a mais alta. Que o sentimento que temos pela nossa vida seja comparável ao da pessoa que pôde escolher o seu ponto de vista no mundo, está na base, creio, do mito – ou da crença – de que escolhemos o nosso corpo antes do nascimento.{{hidden|<sup>107</sup>}} {{MS reference|(MS 110, p. 255)}}


{{leftaside|ø\}} Acredito que o característico do homem primitivo é que ele nunca age por causa de ''opiniões''{{hidden|<sup>108</sup>}} (contra Frazer). Leio, entre muitos exemplos semelhantes, sobre um Rei da Chuva, na África, a quem o povo roga por chuva ''quando chega o período das chuvas''.{{hidden|<sup>109</sup>}} Isso não significa, porém, que eles queiram propriamente dizer que ele possa fazer chover, se não eles o fariam no período mais seco do ano, em que a terra é ―a parched and arid desert‖ (um queimado e árido deserto). Pois ao se admitir que o povo, certa vez, por estupidez, criou este encargo para o Rei da Chuva, nesse caso fica certamente claro que eles já tinham antes a experiência de que a chuva começa em março, e então teriam{{hidden|<sup>110</sup>}} posto o Rei da Chuva para funcionar na parte restante do ano. Ou então: pela manhã, quando o sol estiver por nascer, os homens celebram{{hidden|<sup>111</sup>}} o rito da alvorada, mas não à noite, quando simplesmente acendem as lâmpadas.{{hidden|<sup>112</sup>}}
{{leftaside|ø\}} Acredito que o característico do homem primitivo é que ele nunca age por causa de ''opiniões''{{hidden|<sup>108</sup>}} (contra Frazer). Leio, entre muitos exemplos semelhantes, sobre um Rei da Chuva, na África, a quem o povo roga por chuva ''quando chega o período das chuvas''.{{hidden|<sup>109</sup>}} Isso não significa, porém, que eles queiram propriamente dizer que ele possa fazer chover, se não eles o fariam no período mais seco do ano, em que a terra é ―a parched and arid desert‖ (um queimado e árido deserto). Pois ao se admitir que o povo, certa vez, por estupidez, criou este encargo para o Rei da Chuva, nesse caso fica certamente claro que eles já tinham antes a experiência de que a chuva começa em março, e então teriam{{hidden|<sup>110</sup>}} posto o Rei da Chuva para funcionar na parte restante do ano. Ou então: pela manhã, quando o sol estiver por nascer, os homens celebram{{hidden|<sup>111</sup>}} o rito da alvorada, mas não à noite, quando simplesmente acendem as lâmpadas.{{hidden|<sup>112</sup>}}
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{{leftaside|ø}} Quando estou furioso com algo, bato às vezes minha bengala na terra ou contra uma árvore etc. Mas não acredito que a terra seja culpada ou que a bengala possa ajudar em algo. ―Descarrego minha fúria‖. E todos os ritos são desse tipo. Essas ações podem ser denominadas como ações {{MS reference|(MS 110, p. 297)}} instintivas. – E uma explicação histórica do que talvez eu ou os meus antepassados acreditaram antes, de que bater na terra ajudava em algo, são fantasmagorias, são hipóteses supérfluas que ''nada'' explicam.{{hidden|<sup>113</sup>}} O importante é a semelhança do ato com o meu ato de castigar; porém, mais do que essa semelhança, nada se pode constatar.{{hidden|<sup>114</sup>}}
{{leftaside|ø}} Quando estou furioso com algo, bato às vezes minha bengala na terra ou contra uma árvore etc. Mas não acredito que a terra seja culpada ou que a bengala possa ajudar em algo. ―Descarrego minha fúria‖. E todos os ritos são desse tipo. Essas ações podem ser denominadas como ações {{MS reference|(MS 110, p. 297)}} instintivas. – E uma explicação histórica do que talvez eu ou os meus antepassados acreditaram antes, de que bater na terra ajudava em algo, são fantasmagorias, são hipóteses supérfluas que ''nada'' explicam.{{hidden|<sup>113</sup>}} O importante é a semelhança do ato com o meu ato de castigar; porém, mais do que essa semelhança, nada se pode constatar.{{hidden|<sup>114</sup>}}


Uma vez que esse fenômeno é colocado em ligação com um instinto que eu mesmo possuo, então é precisamente esta a explicação {{udashed|desejada}} «{{udahsed|almejada}}»; isto é, aquela que resolve o puzzlement (perplexidade)  particular  «esta {{udashed|dificuldade}} particular». E uma reflexão «pesquisa posterior» sobre a história do meu instinto  move-se em outros trilhos.{{hidden|<sup>115</sup>}}
Uma vez que esse fenômeno é colocado em ligação com um instinto que eu mesmo possuo, então é precisamente esta a explicação {{udashed|desejada}} «{{udahsed|almejada}}»; isto é, aquela que resolve o puzzlement (perplexidade) particular «esta {{udashed|dificuldade}} particular». E uma reflexão «pesquisa posterior» sobre a história do meu instinto move-se em outros trilhos.{{hidden|<sup>115</sup>}}


{{leftaside|ø\}} Não pode haver o menor fundamento, isto é, absolutamente nenhum ''fundamento'' para que certas raças humanas venerem o carvalho,{{hidden|<sup>116</sup>}} senão somente a de que eles e o carvalho estivessem unidos em uma comunidade de vida «simbiose»; portanto, não por opção mas porque «i uniram-se na sua origem», como a pulga e o cão. (Se as pulgas desenvolvessem um rito, ele estaria relacionado ao cão.) {surgiram juntos}
{{leftaside|ø\}} Não pode haver o menor fundamento, isto é, absolutamente nenhum ''fundamento'' para que certas raças humanas venerem o carvalho,{{hidden|<sup>116</sup>}} senão somente a de que eles e o carvalho estivessem unidos em uma comunidade de vida «simbiose»; portanto, não por opção mas porque «i uniram-se na sua origem», como a pulga e o cão. (Se as pulgas desenvolvessem um rito, ele estaria relacionado ao cão.) {surgiram juntos}


{{leftaside|ø\}} Poder-se-ia dizer que não foi a sua união (entre o carvalho e o homem) que deu {{udashed|motivo}} a esse rito, senão talvez a sua separação {senão, em certo sentido, a sua separação}.{{hidden|<sup>117</sup>}}
{{leftaside|ø\}} Poder-se-ia dizer que não foi a sua união (entre o carvalho e o homem) o que deu {{udashed|motivo}} a esse rito, senão talvez a sua separação {senão, em certo sentido, a sua separação}.{{hidden|<sup>117</sup>}}


{{leftaside|ø\}} Pois o despertar do intelecto ocorreria com uma separação do ''solo'' originário, do fundamento originário da vida, {{udashed|de si}}. (O surgimento da ''escolha''.) {{MS reference|(MS 110, p. 298)}}
{{leftaside|ø\}} Pois o despertar do intelecto ocorreria com uma separação do ''solo'' originário, do fundamento originário da vida, {{udashed|de si}}. (O surgimento da ''escolha''.) {{MS reference|(MS 110, p. 298)}}
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Fora as semelhanças, o que mais chama a atenção me pareceria ser a diferença entre todos esses rituais. É uma variedade de rostos com feições comuns{{hidden|<sup>133</sup>}} que sempre ressurgem cá e lá.  E o que se gostaria de fazer, é puxar a linha que liga os componentes comuns.{{hidden|<sup>134</sup>}} Então ainda falta uma parte da reflexão, e esta é aquela que conecta tal imagem com os nossos próprios sentimentos e pensamentos. Esta parte confere à reflexão a sua profundidade.{{hidden|<sup>135</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 8)}}
Fora as semelhanças, o que mais chama a atenção me pareceria ser a diferença entre todos esses rituais. É uma variedade de rostos com feições comuns{{hidden|<sup>133</sup>}} que sempre ressurgem cá e lá. E o que se gostaria de fazer, é puxar a linha que liga os componentes comuns.{{hidden|<sup>134</sup>}} Então ainda falta uma parte da reflexão, e esta é aquela que conecta tal imagem com os nossos próprios sentimentos e pensamentos. Esta parte confere à reflexão a sua profundidade.{{hidden|<sup>135</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 8)}}


Em todas essas práticas certamente vê-se algo que ''se assemelha'' com a associação de ideias e lhe é aparentado.{{hidden|<sup>136</sup>}} Poder-se-ia falar de uma associação de práticas. {{MS reference|(MS 143, p. 9)}}
Em todas essas práticas certamente vê-se algo que ''se assemelha'' com a associação de ideias e lhe é aparentado.{{hidden|<sup>136</sup>}} Poder-se-ia falar de uma associação de práticas. {{MS reference|(MS 143, p. 9)}}
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Aqui a hipótese parece, antes de tudo, dar profundidade à coisa. E pode- se evocar a explicação da estranha relação de Siegfried e Brunilda na nova canção dos Nibelungos. A saber, que Siegfried parece já ter visto Brunilda uma vez antes. É claro agora que o que dá profundidade a esta prática é a sua ''conexão'' com a queima de uma pessoa.{{hidden|<sup>139</sup>}} Se fosse um costume de outro festival, em que os homens (como o jogo do cavaleiro e do corcel) cavalgam uns sobre os outros, então nada veríamos ali senão uma forma de transporte que lembra um homem andando a cavalo; — se, entretanto, soubéssemos que tinha sido o costume de muitos povos «i por exemplo» utilizar escravos como cavalgadura e assim celebrar certos festivais montados, então {{udashed|descobriríamos}} «{{udashed|veríamos}}» «{{udashed|encontraríamos}}» aqui agora, na prática inofensiva do nosso tempo, algo mais profundo e menos inofensivo. A pergunta é: esta coisa  – digamos – tenebrosa se  fixa à prática (em si) das fogueiras de Beltane, tal como ela foi executada há 100 anos, ou só quando a hipótese da sua origem fosse confirmada? Eu creio que isto é revelador da {{udashed|natureza}} interna {{MS reference|(MS 143, p. 11)}} da própria prática «moderna», que nos parece tenebroso, e de que para nós fatos conhecidos de sacrifícios humanos indicam apenas a direção em que devemos ver tal prática.{{hidden|<sup>140</sup>}} Quando falo da {{udashed|natureza}} interna da prática, me refiro a todas as circunstâncias pelas quais ela é executada e que não estão compreendidas no relato desse festival, pois elas não consistem tanto em determinadas ações que a caracterizam, quanto nas que se podem denominar como o espírito do festival,{{hidden|<sup>141</sup>}} que seria descrito quando se descreve, por exemplo, o tipo de gente que dele participa, seus outros tipos de ação, isto é, seu caráter; o tipo dos jogos que eles costumam jogar. Então se veria que o tenebroso está no próprio caráter desses homens.{{hidden|<sup>142</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 12)}}
Aqui a hipótese parece, antes de tudo, dar profundidade à coisa. E pode- se evocar a explicação da estranha relação de Siegfried e Brunilda na nova canção dos Nibelungos. A saber, que Siegfried parece já ter visto Brunilda uma vez antes. É claro agora que o que dá profundidade a esta prática é a sua ''conexão'' com a queima de uma pessoa.{{hidden|<sup>139</sup>}} Se fosse um costume de outro festival, em que os homens (como o jogo do cavaleiro e do corcel) cavalgam uns sobre os outros, então nada veríamos ali senão uma forma de transporte que lembra um homem andando a cavalo; — se, entretanto, soubéssemos que tinha sido o costume de muitos povos «i por exemplo» utilizar escravos como cavalgadura e assim celebrar certos festivais montados, então {{udashed|descobriríamos}} «{{udashed|veríamos}}» «{{udashed|encontraríamos}}» aqui agora, na prática inofensiva do nosso tempo, algo mais profundo e menos inofensivo. A pergunta é: esta coisa – digamos – tenebrosa se fixa à prática (em si) das fogueiras de Beltane, tal como ela foi executada há 100 anos, ou só quando a hipótese da sua origem fosse confirmada? Eu creio que isto é revelador da {{udashed|natureza}} interna {{MS reference|(MS 143, p. 11)}} da própria prática «moderna», que nos parece tenebroso, e de que para nós fatos conhecidos de sacrifícios humanos indicam apenas a direção em que devemos ver tal prática.{{hidden|<sup>140</sup>}} Quando falo da {{udashed|natureza}} interna da prática, me refiro a todas as circunstâncias pelas quais ela é executada e que não estão compreendidas no relato desse festival, pois elas não consistem tanto em determinadas ações que a caracterizam, quanto nas que se podem denominar como o espírito do festival,{{hidden|<sup>141</sup>}} que seria descrito quando se descreve, por exemplo, o tipo de gente que dele participa, seus outros tipos de ação, isto é, seu caráter; o tipo dos jogos que eles costumam jogar. Então se veria que o tenebroso está no próprio caráter desses homens.{{hidden|<sup>142</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 12)}}


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Aqui, algo parece com os restos de um sorteio. E por esse aspecto, de repente, isso ganha profundidade.{{hidden|<sup>144</sup>}} Se percebêssemos que o bolo teve  de ser assado «originalmente» com botões, possivelmente em honra do fabricante de botões «no seu aniversário», e que a prática tivesse sido conservada  na  região,  então  essa prática de fato perderia toda a ―profundidade‖, a não ser que ela residisse em si em sua forma presente.{{hidden|<sup>145</sup>}}   No  entanto, freqüentemente  se  diz  num  caso como esse: ―essa prática é ''evidentemente'' muito antiga‖. De onde se sabe disso? Só porque se tem testemunho histórico sobre esse tipo de práticas antigas? Ou tem ainda um outro fundamento, um que se adquire por interpretação? Contudo, mesmo quando é historicamente provada a origem pré-histórica da prática e a sua filiação a uma prática tenebrosa, ainda assim é possível que hoje a prática ''nada mais'' tenha em si de tenebrosa, que nada do antigo horror fique nela retida. Talvez hoje ela só seja praticada por crianças que competem em assar bolos e ornamentá-los com botões. {{MS reference|(MS 143, p. 13)}}
Aqui, algo parece com os restos de um sorteio. E por esse aspecto, de repente, isso ganha profundidade.{{hidden|<sup>144</sup>}} Se percebêssemos que o bolo teve de ser assado «originalmente» com botões, possivelmente em honra do fabricante de botões «no seu aniversário», e que a prática tivesse sido conservada na região, então essa prática de fato perderia toda a ―profundidade‖, a não ser que ela residisse em si em sua forma presente.{{hidden|<sup>145</sup>}} No entanto, freqüentemente se diz num caso como esse: ―essa prática é ''evidentemente'' muito antiga‖. De onde se sabe disso? Só porque se tem testemunho histórico sobre esse tipo de práticas antigas? Ou tem ainda um outro fundamento, um que se adquire por interpretação? Contudo, mesmo quando é historicamente provada a origem pré-histórica da prática e a sua filiação a uma prática tenebrosa, ainda assim é possível que hoje a prática ''nada mais'' tenha em si de tenebrosa, que nada do antigo horror fique nela retida. Talvez hoje ela só seja praticada por crianças que competem em assar bolos e ornamentá-los com botões. {{MS reference|(MS 143, p. 13)}}


Por isso, então, a profundidade está somente no pensamento de uma filiação. Entretanto, esta pode ser totalmente incerta, e poder-se-ia dizer: ―para que tomar cuidados «ocupar-se» com uma coisa tão incerta‖ (como uma Elsa esperta{{hidden|<sup>146</sup>}} que olha para trás)? Mas não se trata de tais preocupações. – Sobretudo: de onde vem a segurança de que uma tal prática  tem que  ser muito antiga  (quais são os  nossos dados,  qual é  a verificação)? Entretanto nós temos uma segurança, não poderíamos estar equivocados e ter sido convencidos «i historicamente» de um equívoco? Certamente, mas então permanece sempre, claro, alguma coisa da qual estamos seguros. Poderíamos, «i portanto», dizer: ―Bem, nesse caso a procedência poderia ser outra, mas em geral ela é certamente a pré- histórica‖. Aquilo que para nós é uma ''evidência'' disto, tem que conter a profundidade dessa suposição. E essa evidência é novamente psicológica «i e não-hipotética».{{hidden|<sup>147</sup>}} Se eu digo, por exemplo: a profundidade nessa prática está na sua procedência, ''se'' ela aconteceu assim. Então, a profundidade <s>deve</s> está no pensamento de uma tal procedência, ou a profundidade é «i ela mesma» apenas hipotética e só se pode dizer: ''se'' isso aconteceu assim, {{MS reference|(MS 143, p. 14)}} então foi uma história profunda e tenebrosa. Quero dizer: o tenebroso, o profundo, não reside no fato de ela ter ocorrido dessa forma, pois talvez ela não tenha ocorrido assim; nem tampouco que ela talvez ou realmente tenha sido assim, senão naquilo que me dá fundamento para isso supor  tal suposição.{{hidden|<sup>148</sup>}} Claro, de onde vem na realidade o profundo e o tenebroso no sacrifício humano? São pois só os sofrimentos da vítima que nos impressionam? Doenças de todo tipo, que são ligadas a sofrimentos do mesmo tipo, não provocam ''contudo'' essa impressão. Não, esse profundo e tenebroso não são evidentes se nós só ficamos conhecendo a história da ação manifestada, pelo contrário ''nós'' o reintroduzimos a partir de uma experiência da nossa interioridade.{{hidden|<sup>149</sup>}}
Por isso, então, a profundidade está somente no pensamento de uma filiação. Entretanto, esta pode ser totalmente incerta, e poder-se-ia dizer: ―para que tomar cuidados «ocupar-se» com uma coisa tão incerta‖ (como uma Elsa esperta{{hidden|<sup>146</sup>}} que olha para trás)? Mas não se trata de tais preocupações. – Sobretudo: de onde vem a segurança de que uma tal prática tem que ser muito antiga (quais são os nossos dados, qual é a verificação)? Entretanto nós temos uma segurança, não poderíamos estar equivocados e ter sido convencidos «i historicamente» de um equívoco? Certamente, mas então permanece sempre, claro, alguma coisa da qual estamos seguros. Poderíamos, «i portanto», dizer: ―Bem, nesse caso a procedência poderia ser outra, mas em geral ela é certamente a pré- histórica‖. Aquilo que para nós é uma ''evidência'' disto, tem que conter a profundidade dessa suposição. E essa evidência é novamente psicológica «i e não-hipotética».{{hidden|<sup>147</sup>}} Se eu digo, por exemplo: a profundidade nessa prática está na sua procedência, ''se'' ela aconteceu assim. Então, a profundidade <s>deve</s> está no pensamento de uma tal procedência, ou a profundidade é «i ela mesma» apenas hipotética e só se pode dizer: ''se'' isso aconteceu assim, {{MS reference|(MS 143, p. 14)}} então foi uma história profunda e tenebrosa. Quero dizer: o tenebroso, o profundo, não reside no fato de ela ter ocorrido dessa forma, pois talvez ela não tenha ocorrido assim; nem tampouco que ela talvez ou realmente tenha sido assim, senão naquilo que me dá fundamento para isso supor tal suposição.{{hidden|<sup>148</sup>}} Claro, de onde vem na realidade o profundo e o tenebroso no sacrifício humano? São pois só os sofrimentos da vítima que nos impressionam? Doenças de todo tipo, que são ligadas a sofrimentos do mesmo tipo, não provocam ''contudo'' essa impressão. Não, esse profundo e tenebroso não são evidentes se nós só ficamos conhecendo a história da ação manifestada, pelo contrário ''nós'' o reintroduzimos a partir de uma experiência da nossa interioridade.{{hidden|<sup>149</sup>}}


O fato de que a sorte seja tirada de um bolo tem (também) algo de particularmente espantoso (próximo de uma traição por um beijo), e que isso nos cause a impressão de ser particularmente {{udashed|espantoso}}, tem novamente um significado essencial para a investigação dessas {{MS reference|(MS 143, p. 15)}} práticas {de uma tal prática}.{{hidden|<sup>150</sup>}}
O fato de que a sorte seja tirada de um bolo tem (também) algo de particularmente espantoso (próximo de uma traição por um beijo), e que isso nos cause a impressão de ser particularmente {{udashed|espantoso}}, tem novamente um significado essencial para a investigação dessas {{MS reference|(MS 143, p. 15)}} práticas {de uma tal prática}.{{hidden|<sup>150</sup>}}
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O ''entorno'' de uma maneira de agir.{{hidden|<sup>151</sup>}}
O ''entorno'' de uma maneira de agir.{{hidden|<sup>151</sup>}}


Uma {{udashed|<s>suposição</s>}} convicção, em todo caso, serve como fundamento para suposições sobre, por exemplo, a origem do Festival de Beltane; que é a de  que esse  festival  não foi inventado por nenhuma  pessoa  por acaso, digamos, mas é preciso uma base infinitamente mais ampla para conseguir isso. Se eu quisesse inventar um festival, ele se extinguiria muito rápido ou então se modificaria de tal forma que corresponderia a uma inclinação geral das pessoas.{{hidden|<sup>152</sup>}}
Uma {{udashed|<s>suposição</s>}} convicção, em todo caso, serve como fundamento para suposições sobre, por exemplo, a origem do Festival de Beltane; que é a de que esse festival não foi inventado por nenhuma pessoa por acaso, digamos, mas é preciso uma base infinitamente mais ampla para conseguir isso. Se eu quisesse inventar um festival, ele se extinguiria muito rápido ou então se modificaria de tal forma que corresponderia a uma inclinação geral das pessoas.{{hidden|<sup>152</sup>}}


O que nos previne, porém, contra a suposição de que o Festival de Beltane tivesse sido sempre celebrado na forma presente (ou do passado recente)? Poder-se-ia dizer: é muito sem sentido para ter sido {{MS reference|(MS 143, p. 16)}} inventado assim. Não é como quando vejo uma ruína e digo: isso deve ter sido alguma vez uma casa, pois ninguém teria erguido um monte já formado de pedras talhadas e irregulares? E se me perguntassem: como é que sabes disso, só poderia então dizer: minha experiência com as pessoas me ensinou. Sim, mesmo onde realmente se constroem ruínas, elas tomam a forma de casas desmoronadas.{{hidden|<sup>153</sup>}}
O que nos previne, porém, contra a suposição de que o Festival de Beltane tivesse sido sempre celebrado na forma presente (ou do passado recente)? Poder-se-ia dizer: é muito sem sentido para ter sido {{MS reference|(MS 143, p. 16)}} inventado assim. Não é como quando vejo uma ruína e digo: isso deve ter sido alguma vez uma casa, pois ninguém teria erguido um monte já formado de pedras talhadas e irregulares? E se me perguntassem: como é que sabes disso, só poderia então dizer: minha experiência com as pessoas me ensinou. Sim, mesmo onde realmente se constroem ruínas, elas tomam a forma de casas desmoronadas.{{hidden|<sup>153</sup>}}
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Que o fogo tenha sido usado para a purificação, está claro. Porém, nada pode ser mais provável do que o fato de que as pessoas que pensam associaram mais tarde as cerimônias de purificação ao sol, mesmo onde originalmente elas tinham sido pensadas só no sentido de purificação. Se um pensamento se impõe a uma pessoa {{MS reference|(MS 143, p. 24)}} (fogo-purificação) e a um outro se impõe outro pensamento (fogo-sol), o que  pode  ser  mais  provável   que a  uma  pessoa  se  imponham  dois pensamentos?{{hidden|<sup>170</sup>}} Os eruditos que sempre gostariam de ter ''uma'' teoria!!!{{hidden|<sup>171</sup>}}
Que o fogo tenha sido usado para a purificação, está claro. Porém, nada pode ser mais provável do que o fato de que as pessoas que pensam associaram mais tarde as cerimônias de purificação ao sol, mesmo onde originalmente elas tinham sido pensadas só no sentido de purificação. Se um pensamento se impõe a uma pessoa {{MS reference|(MS 143, p. 24)}} (fogo-purificação) e a um outro se impõe outro pensamento (fogo-sol), o que pode ser mais provável que a uma pessoa se imponham dois pensamentos?{{hidden|<sup>170</sup>}} Os eruditos que sempre gostariam de ter ''uma'' teoria!!!{{hidden|<sup>171</sup>}}


A destruição ''total'' pelo fogo, em vez de por esquartejamento, rompimento etc., deve ser sido notada pelas pessoas.
A destruição ''total'' pelo fogo, em vez de por esquartejamento, rompimento etc., deve ser sido notada pelas pessoas.
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Mesmo se não houvesse conhecimento de um tal pensamento de ligação entre purificação e sol, seria possível supor que ele de alguma maneira se apresentaria.{{hidden|<sup>172</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 25)}}
Mesmo se não houvesse conhecimento de um tal pensamento de ligação entre purificação e sol, seria possível supor que ele de alguma maneira se apresentaria.{{hidden|<sup>172</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 25)}}


680{{hidden|<sup>173</sup>}}  ―soul-stone‖ (―pedra-alma‖). Aqui  se  como  trabalha uma  tal hipótese.{{hidden|<sup>174</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 26)}}
680{{hidden|<sup>173</sup>}} ―soul-stone‖ (―pedra-alma‖). Aqui se como trabalha uma tal hipótese.{{hidden|<sup>174</sup>}} {{MS reference|(MS 143, p. 26)}}


681{{hidden|<sup>175</sup>}}
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