Tractatus Logico-Philosophicus (português): Difference between revisions

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E a proposição "''sòmente'' um ''x'' satisfaz ''f''( )" será "(∃''x'') . ''fx'' : ∼(∃''x'', ''y'') . ''fx'' . ''fy''".
E a proposição "''sòmente'' um ''x'' satisfaz ''f''( )" será "(∃''x'') . ''fx'' : ∼(∃''x'', ''y'') . ''fx'' . ''fy''".


'''5.533''' O signo da igualdade não é, pois, parte essencial da ideografia.<references />
'''5.533''' O signo da igualdade não é, pois, parte essencial da ideografia.
 
'''5.534''' Vemos então que pseudoproposições como: "''a'' = ''a''", "''a'' = ''b'' . ''b'' = ''c'' . ⊃ ''a'' = ''c''", "(''x'') . ''x'' = ''x''", "(∃''x'') . ''x'' = ''a''", etc., não se deixam inscrever de modo algum numa ideografia correta.
 
'''5.535''' Desaparecem assim todos os problemas ligados a tais pseudoproposições.
 
Todos os problemas que encerra o ''axiom of infinity'' de Russell aqui se resolvem.
 
O ''axiom of infinity'' quer dizer, em têrmos da linguagem, que existem infinitamente muitos nomes com denotação diferente.
 
'''5.5351''' Existem certos casos em que se é tentado a usar expressões da forma: "''a'' = ''a''", ou "''p'' ⊃ ''p''" e outras. E isto com efeito acontece quando se deve falar da protofiguração: proposição, coisa, etc. Russell, nos ''Principles of Mathematics'' transpôs o absurdo "''p'' é uma proposição" no símbolo "''p'' ⊃ ''p''", tomando-o como hipótese diante de certas proposições a fim de que os lugares dos argumentos destas só pudessem ser ocupados por proposições.
 
(Já é um absurdo colocar diante de uma proposição a hipótese ''p'' ⊃ ''p'' para assegurar aos argumentos forma correta, porque a hipótese estabelecida para uma não-proposição enquanto argumento não se torna falsa mas absurda; além do mais, a própria proposição se torna absurda para argumentos de gênero incorreto, de sorte que se conserva tanto boa como má diante dos argumentos incorretos, assim como a hipótese sem sentido empregada para êsse fim.)
 
'''5.5352''' Do mesmo modo, pretendeu-se exprimir "Não existe ''coisa'' alguma" por meio de "∼(∃''x'') . ''x'' = ''x''". Ainda, porém, que isto fôsse uma proposição — esta não seria verdadeira se, com efeito, "houvesse coisas" que todavia não fossem idênticas consigo mesmas?
 
'''5.54''' Na forma geral da proposição, a proposição aparece na proposição apenas como base das operações-verdades.
 
'''5.541''' À primeira vista parece que seria possível uma proposição aparecer numa outra de outro modo.
 
Em particular em certas formas proposicionais da psicologia tais como "''A'' acredita que ''p'' ocorre" ou "''A'' pensa ''p''", etc.
 
Nelas parece superficialmente que ''a'' proposição ''p'' se relaciona, de um certo modo, com um objeto ''A''.
 
(E na moderna teoria do conhecimento (Russell, Moore, etc.) essas proposições são assim concebidas.)
 
'''5.542''' É claro porém que "''A'' acredita que ''p''", "''A'' pensa ''p''", "''A'' diz ''p''" são da forma "''p'' diz ''p''". Não se trata aqui da coordenação de um fato e um objeto, mas da coordenação de fatos por meio da coordenação de seus objetos.
 
'''5.5421''' Isto mostra que a alma — o sujeito, etc. — tal como é compreendida atualmente pela psicologia superficial, é um disparate.
 
Uma alma composta não seria mais alma.
 
'''5.5422''' A explicação correta da forma da proposição "''A'' julga ''p''" deve indicar ser impossível julgar um absurdo. (A teoria de Russell não satisfaz essa condição.)
 
'''5.5423''' Perceber um complexo quer dizer perceber que suas partes constituintes estão em relação entre si de um certo modo.[[File:TLP 5.5423.png|250px|center|link=]]Isto também explica por que é possível ver a figura de duas maneiras como um cubo; e todos os fenômenos parecidos. Porquanto vemos realmente dois fatos diferentes.
 
(Primeiro vejo a partir dos vértices ''a'', e só ligeiramente a partir de ''b''; ''a'' aparece na frente; e vice-versa.)
 
'''5.55''' Devemos agora ''a priori'' responder à pergunta a respeito de todas as formas possíveis de proposições elementares.
 
A proposição elementar constitui-se de nomes. Pôsto que não podemos dar o número de nomes com denotação diferente, não podemos também dar a composição das proposições elementares.
 
'''5.551''' É nossa proposição básica: cada questão que em geral se deixa decidir pela lógica, deve sem mais deixar-se decidir.
 
(E se chegarmos à condição de precisar olhar o mundo para responder a tais problemas, isto mostraria que enveredamos por pistas bàsicamente falsas.)
 
'''5.552''' A "experiência" que precisamos para compreender a lógica, não é a de que algo está do seguinte modo, mas a de que algo ''é''; esta, porém, ''não'' é uma experiência.
 
A lógica está ''antes'' de qualquer experiência — de que algo ''é assim''.
 
Dêsse modo está antes do Como mas não antes do Que.
 
'''5.5521''' E se não fôsse assim como poderíamos aplicar a lógica? Poder-se-ia dizer: se houvesse uma lógica ainda que não houvesse um mundo, como poderia haver uma lógica já que há um mundo?
 
'''5.553''' Russell disse que havia relações simples entre diversos números de coisas (individuais). Mas entre que números? E como isto há de ser decidido? — Por meio da experiência?
 
(Não existe um número excelente.)
 
'''5.554''' A indicação daquelas formas especiais seria completamente arbitrária.
 
'''5.5541''' Há de se revelar ''a priori'' se, por exemplo, posso chegar à condição de ter de designar alguma coisa com um signo de uma relação de 27 têrmos?
 
'''5.5542''' Devemos, pois, fazer em geral tal pergunta? Podemos estabelecer uma forma em signos e não saber se a ela poderia corresponder alguma coisa?
 
Tem sentido a questão: O que deve ''ser'' a fim de que algo possa ocorrer?
 
'''5.555''' É claro que temos da proposição elementar um conceito independente de sua forma lógica particular.
 
Onde é possível formar símbolos de acordo com um sistema, o importante do ponto de vista lógico é o próprio sistema, não o símbolo singular.
 
Como seria também possível que, na lógica, tivesse que me ocupar de formas que posso inventar? No entanto, devo ocupar-me com o que me torna possível inventá-las.
 
'''5.556''' Não pode haver hierarquia de formas das proposições elementares. Podemos pressupor somente o que nós próprios construímos.
 
'''5.5561''' A realidade empírica é limitada pela totalidade dos objetos. O limite reaparece na totalidade das proposições elementares.
 
As hierarquias são e devem ser independentes da realidade.
 
'''5.5562''' Por motivos puramente lógicos sabemos que deve haver proposições elementares; dêsse modo, isto deve ser conhecido por todo aquêle que compreende as proposições na sua forma não-analisada.
 
'''5.5563''' Tôdas as proposições de nossa linguagem corrente são, de fato, tais como são, perfeitamente ordenadas de um ponto de vista lógico. — Tudo o que fôr mais simples e que devemos aqui admitir não é símile da verdade mas a própria verdade plena.
 
(Nossos problemas não são abstratos mas talvez os mais concretos que existem.)
 
'''5.557''' A ''aplicação'' da lógica decide que proposições elementares existem.
 
O que está na aplicação a lógica não pode antecipar.
 
É claro: a lógica não há de colidir com sua aplicação.
 
Mas a lógica deve referir-se à sua aplicação.
 
Dêsse modo, a lógica e sua aplicação não devem sobrepor-se uma à outra.
 
'''5.5571''' Se não posso indicar ''a priori'' as proposições elementares, querer indicá-las deve redundar num patente absurdo.
 
'''5.6''' ''Os limites de minha linguagem'' denotam os limites de meu mundo.
 
'''5.61''' A lógica preenche o mundo, os limites do mundo são também seus limites.
 
Não podemos pois dizer na lógica: isto e isto existem no mundo, aquilo não.
 
Porquanto se pressuporia aparentemente que excluímos certas possibilidades, o que não pode ocorrer pois, do contrário, a lógica deveria colocar-se além dos limites do mundo, como se pudesse considerar êsses limites também do outro lado.
 
Não podemos pensar o que não podemos pensar, por isso também não podemos ''dizer'' o que não podemos pensar.
 
'''5.62''' Esta observação dá a chave para decidir da questão: até onde o solipsismo é uma verdade.
 
O que o solipsismo nomeadamente ''acha'' é inteiramente correto, mas isto se mostra em vez de deixar-se ''dizer''.
 
Que o mundo é o ''meu'' mundo, isto se mostra porque os limites ''da'' linguagem (da linguagem que sòmente eu compreendo) denotam os limites de ''meu'' mundo.
 
'''5.621''' O mundo e a vida são um só.
 
'''5.63''' Sou meu mundo. (O microcosmos.)
 
'''5.631''' O sujeito representante e pensante não existe. Se escrevesse um livro: ''O mundo tal como encontro'', deveria reportar-me a meu corpo e dizer quais membros estão sob minha vontade e quais não estão, etc. — isto é particularmente um método para isolar o sujeito, ou melhor, para indicar que não existe sujeito num sentido importante: dêle sozinho ''não'' é possível tratar neste livro.
 
'''5.632''' O sujeito não pertence ao mundo mas é limite do mundo.
 
'''5.633''' Onde ''no'' mundo se há de notar um sujeito metafísico?
 
Tu dizes que aqui se está inteiramente como diante do ôlho e do campo visual, mas tu ''não'' vês realmente o olho.
 
E não há coisa no ''campo visual'' que leve à conclusão de que ela é vista por um ôlho.
 
'''5.6331''' O campo visual não tem nomeadamente uma forma como esta:[[File:TLP 5.6331en.png|250px|center|link=]]'''5.634''' Isto se liga a que nenhuma parte de nossa experiência é ''a priori''.
 
Tudo o que vemos poderia ser diferente.
 
Tudo o que podemos em geral descrever poderia ser diferente.
 
Não há ''a priori'' uma ordem das coisas.
 
'''5.64''' Por aqui se vê que o solipsismo, levado às últimas conseqüências, coincide com o realismo puro. O eu do solipsismo reduz-se a um ponto sem exten- são, a realidade permanecendo coordenada a êle.
 
'''5.641''' Tem, portanto, sentido real falar-se, na filosofia, do eu de um ponto de vista não-psicológico.
 
O eu penetra na filosofia porque o "mundo é meu mundo".
 
O eu filosófico não é o homem, nem o corpo humano, nem a alma humana de que se ocupa a psicologia, mas o sujeito metafísico, o limite — não sendo pois parte do mundo.
 
'''6''' A forma geral da função de verdade é <math>[ \bar{p}, \bar{\xi}, N (\bar{\xi}) ]</math>
 
Esta é a forma geral da proposição.
 
'''6.001''' Isto nada mais diz do que: cada proposição resulta da aplicação sucessiva da operação <math>N (\bar{\xi})</math> sôbre as proposições elementares.<references />